Entrevista a A FOREST OF STARS

A propósito do lançamento do seu mais recente álbum, A Shadowplay for Yesterdays, a Ruído Sonoro esteve à conversa com os mais que simpáticos A Forest of Stars.
 
 
 
Ruído Sonoro: Lançaram recentemente um novo álbum, que tem recebido óptimas críticas por parte da imprensa e dos fãs. Como é que se sentem em relação a isso? Estavam à espera desta reacção?

The Gentleman: Não, nem pensar! Na verdade, é muito estranho. Quer dizer, sabíamos que tínhamos feito o melhor álbum possível, mas tentar adivinhar como seria recebido, seria uma loucura completa! Por isso, tento evitar pensar nas duas coisas ao mesmo tempo. É óbvio que nos sentimos extremamente lisonjeados com a resposta e, como disseste, a sério, ultrapassou todas as expectativas. É tudo muito, muito estranho. Parece um sonho.

Curse: Posso apenas dizer que é muito lisonjeador receber tantas respostas positivas. E é também muito interessante ler aquelas que são menos favoráveis!

RS: Esta foi a vossa primeira tentativa de criar um álbum conceptual. Porque é que se decidiram por este tipo de álbum, e como é que foi concebê-lo e criá-lo?

The Gentleman: Não nos reunimos com a intenção de criar um álbum conceptual. Isso surgiu através de várias conversas entre mim, o Curse e o Projectionist (que fez o nosso maravilhoso vídeo). A certa altura, com o conceito já decidido, a história surgiu em torno do álbum. Depois disso, a música como que se encaixou, apesar de ter sido um pouco complicado criar uma série de músicas que, quando ordenadas conjuntamente, tivessem um princípio definitivo, um meio e um fim. Não deves ouvi-las de trás para a frente, senão a história fica (obviamente) desordenada. Mas, ao utilizar temas e melodias e riffs recorrentes para unir o conceito na íntegra, pareceu resultar. Pelo menos espero que sim. Foi confuso, mas fluido. Ou qualquer coisa do género.

Curse: Na verdade existiram outros conceitos em redor de outros álbuns, também. Talvez menos óbvios, mas estavam lá.

RS: A Shadowplay for Yesterdays é um título muito bonito e interessante. Porque é que o escolheram, e de que forma é que reflecte todo o conceito do álbum?

The Gentleman: Obrigado! Tínhamos algumas opções para o título final, e demorou algum tempo até nos decidirmos por este. A ideia geral é a de sugerir momentos de uma vida, que vão passando intermitentes por detrás dos olhos de um indivíduo no momento da sua morte. Foi criado com o intuito de que cada música fosse um momento do seu jogo de sombras, e também de modo a sugerir que podem existir verdades e ficções, que são evidentes dentro das alterações que ocorrem dentro do conto.

RS: A vossa sonoridade mudou um pouco desde o vosso primeiro álbum. Quando os A Forest of Stars foram criados em 2007, já sabiam que queriam criar este tipo de música?

The Gentleman: Não exactamente. Naquela altura, para além das primeiras músicas que compusemos (que eventualmente vieram a constituir o nosso primeiro álbum), não pensávamos em mais nada. Fazíamos isto por ser uma coisa divertida, entre amigos. E certamente que não antecipámos como é que as coisas iriam evoluir no futuro. Porém, agora, abordamos cada álbum com uma mente limpa, e vemos o que acontece – esperamos conseguir evoluir e ver onde é que a escrita das músicas nos leva. É muito mais divertido (e menos stressante) entregá-lo ao destino, do que preocuparmo-nos com o modo como deve ser feito. O que será, será!

Curse: Concordo – simplesmente seguimos a nossa vontade. As nossas influências são muitas e variadas, e suponho que a nossa música reflicta isso. Estamos relutantes em relação a tudo o que seja demasiado limitado. Pelo menos em relação aos nossos não-tão-bons eus.

RS: Depois do Opportunistic Thieves of Spring [2010], decidiram fazer algumas alterações em relação à line-up. Porque é que decidiram trazer outros membros para a banda? E, isso teve alguma consequência na vossa música?

The Gentleman: De facto. Depois do Opportunistic Thieves of Spring, o TS Kettleburner deixou a banda e/ou morreu num acidente envolvendo um barbecue, deixando-nos sem uma guitarra e baixo. Combatemos isto ao introduzir live members como ferramentas a tempo inteiro, e em adição, convidámos o nosso amigo de longa data HH Bronsdon, para se juntar a nós também. Entre eles o impacto tem sido enorme, de inúmeras formas, tanto pequenas como grandes. Eu e o Brandson acabámos por escrever a maior parte da música, assim como produzir o álbum, por exemplo (quando antes tinha sido o Kettleburner e eu), de modo que transmitiu imediatamente uma nova perspectiva. O Kettleburner era muito singular em vários aspectos, por isso não existia nenhuma razão para o tentar replicar. Tivemos de começar de novo, a partir de uma nova (bem, no nosso caso, velha) perspectiva.

Curse: Depois da saída do muito saudoso TSK, fomos suficientemente sortudos para nos depararmos com os talentos de três novos indivíduos, que têm contribuído imensuravelmente para a nossa contínua criatividade.

RS: Algumas das vossas maiores influências são o Século XIX e a Época Vitoriana, temas esses que não são muito comuns numa banda de Black Metal. Porque é que se decidiram por esta temática, e como é que criaram toda a concepção existente por detrás da banda?

The Gentleman: Fui completamente responsável por isso, sendo que sou, por isso, o culpado. Apesar de nunca ter percebido completamente se devia desculpar-me ou não (e a quem?), não faço a mínima ideia porque é que o sugeri – precisávamos de qualquer coisa para dar forma à banda, para lhe dar uma identidade, qualquer coisa à qual nos pudéssemos agarrar, e essa foi a minha sugestão. Certamente que não é culpa minha que toda a gente tenha dito logo que era “Uma boa ideia”! Em relação ao porquê de ter pensado nisso, bem, eu tenho estado um bocado obcecado com esta Época desde que era pequeno, através de livros, museus, memorabilia, e por aí em diante. É uma parte de mim, e não faço ideia porquê. É como outra coisa qualquer. Em relação ao porquê de o termos criado, sinceramente não sei dizer. Simplesmente pareceu natural desempenhar este papel, e tudo o resto – música, letras, arte, os cenários em palco, os fatos, etc., simplesmente se encaixou como se este tivesse sempre sido o caminho a seguir. É uma experiência muito estranha, a de observar as peças do puzzle resolverem-se por elas próprias, mas estou eternamente grato por tanta sorte.

RS: Vocês são também, muitas vezes, ligados ao Steampunk. O que é que pensam sobre isso? Concordam?

The Gentleman. Não, não concordo. Não tenho nada contra o Steampunk, de todo, é extremamente divertido e muito inventivo, mas não tem nada a ver connosco. Nós somos Victoriana – se nos vão aceitar ou não, é outra questão. É tudo muito fracturado e desnecessário – visto de fora, irá simplesmente parecer que nos estão a acusar dos vícios dos outros, mas é uma distinção importante. Para mim, pelo menos. Tenho a certeza de que o resto da banda está a revirar os seus olhos colectivos enquanto escrevo.

Victoriana é o amor por todas as coisas relacionadas com a Época Vitoriana, e lida mais com coisas reais, pessoas reais e o mundo real. Não há nenhum elemento fantástico. Se o polvilhares com um bocadinho de oculto, o colares num livro de histórias infantis e lhe deitares umas quantas gotas do nosso opiáceo favorito, e se leres a confusão resultante numa parlour circa elegante, digamos, em 1892, somos nós. Mais ou menos.

Curse: Eu concordo que discordamos! Cada um com a sua maldição, apesar de sermos mais uma ideia ou uma insinuação de uma época, do que uma máquina do tempo, na minha, oh tão humilde, opinião…

RS: Como é que vocês se conheceram? Tinham alguma banda antes, ou esta foi a vossa primeira experiência musical? Se sim, que tipo de música tocavam na altura?

The Gentleman. Eu e o Curse conhecemo-nos há muito, muito tempo, e sempre quisemos formar uma banda mas, por várias razões, isso não aconteceu, e seguimos em frente nas nossas vidas, como de costume. Eventualmente, através de novas amizades e de novas bandas, descobrimos as pessoas certas e, sem sequer tentar, as coisas encontraram o seu lugar. Apenas fizemos isto pela piada, entre amigos, não havia nenhum plano para além de o de criar uma demo e partilhá-la com alguns amigos. O que acabou por acontecer depois disso, foi um bocadinho desconcertante mas, hey, já estive em muitas, muitas bandas diferentes ao longo dos anos, com graus de sucesso variáveis (ou falta deles), e toquei vários estilos diferentes de música, mas, a sério, isso não interessa a ninguém, prometo. Juro.

Curse: A minha única experiência anterior foi estragar um coro de uma escola quando era novo, seguido por um pouco de pub jamming com um muito querido e falecido amigo meu. O Pete foi ter com a mãe dele, onde quer que ela tenha acabado. Então, comecei a estragar as estruturadas composições sonoras dos meus bons amigos A Forest of Stars. É isso.

RS: Este Verão estiverem em digressão com os Wodensthrone no Reino Unido. Como é que correu?

Curse: Não podíamos ter pedido por um melhor grupo de pessoas para atravessar o país. Foi um grande prazer. Houve alguns momentos difíceis, aqui e ali, mas sem eles uma digressão não seria uma digressão, pois não? Pessoalmente, eu estaria mais do que interessado em ir em digressão com eles outra vez, quando ou onde eles escolhessem tocar.

RS: Estão a planear ir outra vez em digressão num futuro próximo?

Curse: Bem, costumam dizer que não se consegue manter um cão mau sossegado, por isso existe uma boa possibilidade disso acontecer.

RS: Anunciaram recentemente que vão tocar na próxima edição do festival Roadburn em Tilburg, na Holanda, onde vão tocar o A Shadowplay for Yesterdays na íntegra. Estão entusiasmados com o concerto?

Curse: Sim, claro que sim! Tenho estado um pouco chateado com o facto de que não vou conseguir ver os Pallbearer tocar, sendo que vão tocar na quinta-feira. Na verdade, há várias bandas que adoraria ver que vão tocar nos dias que rodeiam o nosso concerto. Contudo, é um enorme prazer ser convidado para tocar, por isso não me posso queixar!

Henry Hyde Bronsdon: Vai ser um evento interessante e único (até agora). Tenho a certeza de que vai ser muito agradável, e uma das vantagens é que será mais fácil lembrarmo-nos da setlist do que habitualmente!

RS: O concerto será também acompanhado por vários efeitos visuais. O que é que podemos esperar desta actuação? E de que forma é que estes efeitos irão ajudar a audiência a entrar no mundo dos A Forest of Stars?

Curse: O nosso estimado colega irá providenciar uma selecção de fumo, espelhos, luzes e projecções, numa tentativa de levar a nossa actuação um passo à frente. Não quero dizer muito por enquanto, mas tenho a certeza de que não irá desapontar!

HH Bronsdon: O elemento visual tem sido, desde sempre, uma parte integrante dos A Forest of Stars. O nosso bom amigo Ingram Blakelock, tem trabalhado consistentemente, muito para além do chamamento do seu próprio dever, de modo a produzir um acompanhamento visual complementar para as nossas divagações sonoras. O nosso objectivo para este evento, é torná-lo um verdadeiro festim para os olhos e para os ouvidos. Claro que podemos falhar completamente (como geralmente acontece).

RS: Têm alguma ideia do que irão fazer a seguir? Uma ideia para o próximo lançamento, talvez?

The Gentleman: Como costuma acontecer, tivemos a nossa primeira sessão de escrita no outro dia e foi muito curta, mas incrivelmente produtiva. O problema com que nos deparamos actualmente, é arranjar tempo suficiente para nos sentarmos e trabalharmos em ideias, destilando a grande quantidade de riffs, melodias e harmonias que escrevemos num todo. Mas esta é a minha parte favorita de todo o processo do álbum, por isso irei sorrir ironicamente e aguentar com isto! Nesta altura é muito cedo para dizer que forma irá ter o novo álbum. Existe muita coisa que precisa de ser feita primeiro!

Curse: Eu sendo eu, irei tentar incorporar a maior quantidade possível de agressividade e tristeza. Estou ansioso pela nossa próxima prestação. Actualmente estou a ponderar várias ideias através das minhas têmporas supuradas e, assim que elas derem algum fruto duvidoso, irei sentar-me para voltar a escrever.

HH Bronsdon: Já estamos a começar a compilar alguns sons e a criar qualquer coisa que se pareça com um esboço inicial, um contorno de uma ideia para um álbum. É sempre um bom período de tempo – antes de um álbum estar completamente formado, e quando a veia criativa pode ser usada para empurrar as coisas numa direcção que desejamos. Os sinais iniciais são muito encorajadores e inspirados – para nós, pelo menos. Vamos ver (e ouvir) como é que isso fica, eventualmente…
 
 
 
 
Entrevista por Rita Cipriano. Data de Outubro de 2012.